quarta-feira, 25 de maio de 2016

Relato de Parto - Uma cesárea traumática II

Você deve estar se pensando... mas o importante é que eles estão aí com você, saudáveis, felizes...

Pois é.. não é bem assim. 

As escolhas da via de parto influenciam em todo o resto. A Melissa nasceu com apgar 2. O Marcelo com apgar 8. Isso é grave e não sei qual será o impacto que isso levará na vida deles. A anestesia pegou na Melissa e ela nasceu completamente sem reação e precisou ser reanimada. Ambos foram direto para UTI neo, e isso gerou traumas no Marcelo que serão irreparáveis. Quando ele veio para casa, tocar nele, tirar a roupa dele era um martírio para o pobrezinho. O toque para ele significava que alguém iria machucá-lo. Imagina o impacto disso na vida dele?

Dói em mim. Dói neles. 

Anestesia geral deveria ser mais esclarecida, e eu não fui alertada dos riscos. Fora o fato de eu não presenciar o nascimento dos meus filhos, sabe o que eu senti. NADA. Emoção? Nenhuma. Um dia eu tinha uma barriga, no outro vazio. Por semanas eu não conseguia identificar e me conectar com meus bebês (e ainda é difícil) porque sinto uma lacuna, um sentimento estranho, algo falta. Foi um milagre eu ter leite. Foi, e é, um milagre eu conseguir amamentar meus filhos. Eu olhava as encubadoras, sentava-me entre eles, olhava, olhava, mas não rolava nada. Só medo. Um abismo. Um vácuo. Limbo.

Esse vínculo que me foi tirado, só o tempo conserta. Muita terapia ainda vai rolar.

Marcelo e Melissa nasceram por volta das 6:30 da manhã. Eu os vi no fim da tarde.  Fui de cadeira de rodas até a UTI. Eu precisava vê-los e por mais que me dissessem que eles estavam bem, eu não acreditava. Eu não havia visto eles nascerem.

Não houveram visitas no hospital, afinal eu estava o tempo todo na UTI ao lado deles. Nos intervalos, eu ia para o lactário. Tudo isso me arrastando, porque, vou te falar, as dores são imensas.

Primeira vez que peguei a Melissa no colo.
Veja ela estava sedada. Era tiquinha e eu não sabia o que fazer com ela. O medo de quebrar era avassalador. Minha vontade era sair dali correndo com ela. Tão frágil. Ela foi mamar no peito com 3 dias. Pegou bem, mas dormia fácil. Foram dias difíceis.

Aqui, quando Marcelo tirou quase todos os tubos e começou a mamar. Uma mãe acabada pela correria  casa-hospital.

Depois de 20 dias pude amamentar o Marcelo. Ele foi mais difícil, mas logo pegou o jeito. Era guloso!

Foram dias de tormenta. Não desejo à ninguém. Mas passa. O dia mais feliz e o mais triste da sua vida tem algo em comum, ambos vão passar. Hoje cada dia é uma nova descoberta, novos desafios. Todo dia, um pouquinho de mim morre e outra eu nasce. É uma metamorfose, uma transição, daqui alguns meses eu escrevo novamente tendo uma nova perspectiva dessa nova vida.

Aguardem!


Um comentário:

Carla disse...

Gaby, que relato intenso. Fiquei emocionada aqui e com o coração apertadinho lendo tudo. Parabéns pela força!Parabéns pelos filhotes!